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sábado, 28 de setembro de 2013

A hipocrisia da televisão




 Frequentemente vemos a televisão a criticar abertamente os videojogos pela sua violência, sexo e drogas, afirmando que estes são imorais e anti-sociais.

O primeiro ponto a referir sobre esta afirmação é que generaliza todos os jogos dentro de uma categoria, a dos jogos para adultos. Apesar de existirem muitos jogos de sucesso, que não têm violência, drogas ou sexo, frequentemente vemos esta generalização a ser usada como forma de atacar toda a industria e os jogadores. Como será óbvio isto é um erro de raciocino lógico, pois afirma a parte como sendo o todo, atribuindo características a um conjunto, que não possui essas mesmas características. Por outro lado, o grupo de jogos que tem essas características são feitos por adultos, para adultos e são classificados e marcados para adultos. Temas como a violência, sexo e drogas são em si temas adultos e que encontramos na realidade com certa frequência, por isso fingir que não existem, seja na música, nos filmes ou nos videojogos é negar a realidade, sendo assim um ato de  negação do real e abstração do individuo no universo que o rodeia.

Este é o ponto mais criticado pela televisão em relação aos videojogos, sendo feita uma caracterização destes como simuladores de morte, como instigadores de violência e criadores de psicopatas. O motivo, pelo qual é feita esta ligação é simples, alguns assassinos também jogavam videojogos. No entanto, este argumento começa logo com 2 problemas de simples análise empírica. O primeiro é que a maioria dos criminosos violentos e assassinos não jogam videojogos. Apesar de isto não ilibar imediatamente os videojogos da suposição de que estes criam criminosos, mostra que existem outros factores mais determinantes na criação de mentes criminosas. O segundo ponto é mais direto e a sua constatação é simples de realizar e de enorme magnitude empírica. Existem dezenas de milhões de jogadores de videojogos, violentos e não violentos, pessoas de todas as classes sociais, ambos os sexos, de todas as raças e religiões, tanto estudantes como trabalhadores com responsabilidades sociais, profissionais e económicas, com famílias e amigos. Destes milhões de pessoas, a grande maioria são pessoas responsáveis, civilizadas, que contribuem para a sociedade de forma positiva e que nunca cometeram um crime. No entanto, apenas porque uma pessoa que joga videojogos, comete um crime, temos logo a televisão a afirmar que todos os jogadores são criminosos, ou pelo menos criminosos em potencia. Mais uma vez é feita uma generalização do particular para o todo, atribuindo um crime a todo um conjunto de pessoas que escolhem todos os dias serem boas pessoas. Talvez seja difícil de perceber para certas pessoas, mas o crime de um individuo não é o crime de um grupo de pessoas que partilham uma semelhança, especialmente quando essa semelhança é tão efémera como um passatempo.

Ainda recentemente vimos a TVI numa entrevista a afirmar que Anders Behring Breivik teria feito o atentado na Noruega porque jogava videojogos, colocando de parte que ele é um fundamentalista cristão, de extrema direita, que cometeu um ataque num evento politico de esquerda. Ou seja, ignora os motivos reais e demasiado óbvios para a execução do atentado, apenas para tentar denegrir os videojogos.

O ponto da hipocrisia da televisão chega quando verificamos o tipo de coisas que passam nos mesmos telejornais que criticam abertamente os videojogos e os jogadores.

Nos videojogos a violência é falsa e frequentemente estilizada, para se enquadrar dentro do jogo e do seu universo. Não é raro encontrarmos casos onde a violência é usada como forma de reforçar um ponto de argumentação narrativa. Um bom exemplo disto é a violência gráfica de um jogo como Spec Ops The Line, onde esta é mostrada ao jogador para o fazer sentir desconfortável, aumentando o poder narrativo e o impacto emocional. Seja no cinema ou em pintura, este tipo de imagens são usadas para transmitir uma mensagem poderosa. Imaginem lá que a primeira guerra mundial criou uma onde artística à volta disto, a violência da guerra, com descrições gráficas de violência, mutilações, sangue e sofrimento. No entanto, não o fez como apologia à guerra, mas sim como forma de denunciar os horrores da guerra.


Por outro lado, na televisão, nos telejornais, a violência apresentada é real, o sofrimento é de pessoas verdadeiras, o sangue é de seres humanos e tudo isto é vendido a toda a hora, aos espectadores.

Sejam as pessoas a caírem do World Trade Center, os corpos mutilados das vitimas dos atentados de Madrid, o sangue das espectadores da maratona de Boston, os cadáveres dos trabalhadores da fabrica do Bangladesh, os corpos em convulsão por causa do gás sarine na Síria e muitos mais casos destes, são exibidos pelas televisões. E não interessa a hora, pois as televisões não se coíbem de mostrar estas imagens de violência real em horários em que crianças possam estar a ver. Mesmo o aviso que é costumário fazer, precede estas imagens apenas por alguns segundos, frequentemente não dando tempo aos pais ou professores de mudarem o canal e esqueçam isto se estiverem num restaurante, pois nesse caso ninguém está a verificar e controlar o que vai passar no televisor.


Talvez mais preocupante é a atenção dada à violência em detrimento de outros elementos mais importantes da noticia. Não  é raro vermos estas imagens a serem mostradas, com reforço de zooms, círculos e setas vermelhas e câmara lenta, para apanhar e demonstrar melhor a violência aos espectadores, sendo repetidas ad nauseum, até à insensibilidade do espectador ou talvez até à satisfação sadística do jornalista ou editor.
Uma situação curiosa é o foco jornalístico sobre a violência tal, que frequentemente significa que o resto da noticia nem sequer é tratada, ou se o é, será feito de forma superficial.

Neste 2 momento temos 2 casos que são paradigmáticos desta situação, demonstrativa da incompetência latente dos jornalistas da televisão. Um deles é o caso da revolução social no Brasil, sendo este um momento importante na história deste país, comparável ao Maio de 68 na Europa, onde milhões de pessoas exigem mais do seu governo e dos seus políticos. Milhões de pessoas vão para as ruas, exigindo de forma pacifica mudanças politicas e sociais profundas, no entanto, a maior  parte da atenção das televisões é dada a um grupo de uma centena de arruaceiro que lutam, pilham e destroem. Enquanto milhões de pessoas estão a fazer história, a mudar um país, as televisões viram as câmaras focam-se na violência de uma centena. As pessoas que supostamente deviam informar, ignoram quase completamente, a história  que está a ser feita debaixo dos seus narizes.

Outro caso é o da revolução do Egito, uma revolução extremamente complexa com vários grupos em conflito, por motivos dispares e com algumas mudanças de posição que deviam ser contadas e explicadas cuidadosamente. No entanto, as televisões limitam-se a mostrar a violência e enunciar o nome de quem a cometeu e quem a recebeu. Caso o espectador queira saber as motivações de cada grupo e como se relaciona com os restantes, este precisa de ir a outro lado, como à Internet, para procurar e encontrar essa informação explicada de forma factual. Mais uma vez, a história está a ser feita, enquanto que as televisões se limitam a contar cadáveres e filmar poças de sangue e membros mutilados.


No entanto as televisões não se limitam a glorificar o sangue e sofrimento de pessoas, mas também tornam os criminosos em estrelas televisivas, sendo-lhes dado muito mais tempo de antena do que ás suas vitimas. Claro que as televisões não colocam criminosos como heróis, pois não são assim tão perniciosas, mas dão-lhes os 15 minutos de fama e muito mais. As suas vidas, as suas caras, os seus ideias, os seus motivos são mostrados e discutidos pelas televisões e assim colocados num pedestal para todos apreciarem, enquanto que as vitimas servem apenas para poderem mostrar a quota parte de sangue e cadáveres. Frequentemente ninguém sabe o nome das vitimas destes criminosos, nem as suas caras, mas toda a gente sabe os nomes de vários criminosos e as suas caras, pois são estes que merecem a atenção das televisões.

Um criminoso como o James Eagan Holmes, ao cometer o atendado no cinema em AuroraColorado, pretendia tornar-se numa estrela equiparado ao Joquer e foi exatamente isso que as televisões lhe deram. O Anders Behring Breivik, queria atenção para os seus ideais fundamentalistas cristãos de extrema direita e foi exatamente isso que as televisões lhe deram, pelo menos até às autoridades terem decidido não o fazer. A escolha da imagem que inicia este artigo não é aleatória, pois mostra a cara de satisfação deste psicopata por receber toda a atenção das televisões. O próximo psicopata que decidir cometer uma atrocidade para se tornar famoso, sabe que tem nas televisões mundiais um forte aliado capaz de satisfazer o seu desejo de fama.


Como podem as televisões apontar o dedo a uma forma de entretenimento, como os videojogos, ou ao cinema, por estes terem violência, quando estas baseiam o seu negocio na venda de sangue e sofrimento de pessoas reais? Como podem as televisões afirmarem que os videojogos fazem a apologia à violência, quando estas criam estrelas mundiais com criminosos?

A resposta já muitas pessoas sabem, as televisões não informam, vendem e acreditam fortemente que um dos seus melhores produtos para vender é violência real, com sofrimento e com consequências.


Postado por

Alexandre Vieira
Apaixonado pelo mundo dos videojogos e principalmente Jrpgs e fã da serie Final Fantasy.

5 comentários :

  1. Se o mundo fosse belo não haveriam tantas mortes, desemprego, descaso com saúde e educação, etc
    A mídia tenta construir uma falsa realidade, os jogos violentos que mostram até sexo e drogas, para mim não passam de uma forma dos desenvolvedores protestarem sobre o que ocorre no mundo. Algo que deveria ficar apenas na ficção.

    Os games, filmes, seriados etc não passam de meios de entretenimento que podem abordar diversos temas, óbvio que o indivíduo deve usufruir de conteúdo equivalente a sua idade. E isto é parte da educação que a pessoa recebe dentro de casa, assim como cada individuo assimila as coisas que acontecem no mundo.

    Não acho que os games afetam no desenvolvimento de uma criança, a música tem forte influência pois abordam todos os temas, incluindo letras com forte apologia ao sexo, violência e drogas = funk lixo é um exemplo. A garotada vindas de famílias mais humildes não tem acesso a games, e sim à música.

    Desde a época daquela banda de p***ria "É o Tchan!", a música nacional começou a entrar em decadência e com ela mais e mais bandas com forte apologia ao sexo foram surgindo, no final da década de 90 o funk passou a tomar conta do país pois antes era febre nas grandes metropoles, mais forte no RJ. Nem preciso dizer que as letras do funk são totalmente lixo, nenhum MC tem talento real e fazem fama compondo músicas com letras com forte apelo à violência, drogas e sexo. Quem for fã ou amante de funk que se fodam, o Brasil tem muita cultura mas infelizmente a mídia, culpada de tudo que influência tantos absurdos ocorridos devido ao conteúdo que eles mesmo abordam e patrocinam, conteúdo puramente lixo, hoje a população poderia estar ouvindo músicas de qualidade, como MPB que sempre foi excelente, rock nacional que evoluiu muito desde o final da década de 80 dividindo espaço com as melhores bandas de rock dos Estados Unidos e Europa, o Rap que ao contrário do Funk, traz letras com muito mais conteúdo, o Heavy Metal e a música clássica, além do sertanejo.
    Aqui no Brasil os games nem podem ser considerados o instrumento causador da violência pois os games em si são muito caros, representando o valor de 1/3 do salário minimo, enquanto a música esta lá tocando nas rádios de todos os bairros, incluindo nas periferias e os próprios programas de TV exibindo legítimas prostitutas, violência e drogas, o dia inteiro.

    Na realidade a mídia precisa arrumar um culpado para poder garantir sua imunidade contra os orgãos responsáveis por pressioná-los em relação ao conteúdo que exibem todos os dias.
    Outra metade da culpa cabe a população que ao invés de darem preferência a conteúdos que enriquecem seu conhecimento, dão valor a qualquer porcaria que favoreça a aparição de sua comunidade através da mídia.



    As pessoas tem que aprender a seguir esta frase, que é Universal que esta presente nas melhores família: "Conhecimento é poder!"

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  2. Concordo, porém um fator que contribui muito para o aumento da violência é a "Desigualdade Social".
    As intermináveis filas nos hospitais públicos, o alto custo da cesta básica, o descaso com a educação e o salário mínimo que é extremamente baixo.
    Pessoas humildes acabam forçadas a praticar crimes hediondos para poder garantir o sustento de sua família. Crimes que podem ser desde um simples furto de uma caixa de leite em Supermercado até os mais graves...a impunidade é outro fator que contribui muito com a crescente onda de violência por conta de leis ultrapassadas e de um sistema carcerário com péssimas estruturas...Tráfico de drogas e/ou pessoas, Sequestos Relâmpagos, Roubo seguido de Morte, Assaltos a Mão Armada, Prostituição..etc..
    Como pode ver não são os games que contribuem para o aumento na violência, sexo, e drogas...e sim a impunidade...você deixa de punir a pessoa que estupra uma mulher...o indivíduo assim que volta pras ruas irá continuar a cometer os mesmos crimes porém...pode começar a matar com o objetivo de "limpar" vestígios do seu crime. Quando o indivíduo não é punido a tendência é que ele(a) pratique crimes ainda mais violentos.
    Outro fator que contribui para tantos crimes é o péssimo sistema de educação de nosso país, e a forma que os empregadores tomam para contratar novos funcionários.
    O ideal seriam as escolas dotarem de cursos profissionalizantes no período vespertino para que o jovem se especialize em atividades que lhe serão úteis futuramente. E não é o que ocorre, as escolas até hoje aplicam o velho método adotado na metade da década de 90...aprovar o aluno independente do sua presença, nota e comportamento. Até hoje é muito comum ver alunos burlando aulas e sendo aprovados no final do ano. Professores que realmente querem o melhor de seus alunos acabam sendo vítimas de agressão ao reprovar o mau aluno e em muitos casos perdem até a vida.
    O método adotado pelos empregadores em nosso país é muito estúpida, a preferência é você "trabalhar por indicação", ou seja, sua vida profissional estará garantida em qualquer lugar desde que possua um bom círculo de amizades, porém o profissional que possui qualidades ou esta em busca do 1° emprego e detêm a mesma capacidade que o indivíduo que trabalha por indicação, acaba perdendo a chance de disputar uma vaga que ele(a) poderia ser sua. Empresas que contratam sem dar valor a indicação de uma pessoa, são raras e é geralmente nelas que o indivíduo terá fortes chances de se manter até sua aposentadoria, pois são funcionários que a empresa treinou para executar suas tarefas.
    Quando alguém comenta que todo o sistema em nosso país esta errado, tenho obrigação de concordar pois nem com o salário mínimo um indivíduo é capaz de sobreviver, visto que cada vez que o Governo aumenta o Sal. Mínimo, o valor de todos os produtos e serviços tenderão a aumentar, isto segundo o próprio Governo para garantir a Estabilidade Econômica. Não sei você e os demais, mas tenho medo quando o valor do Sal. Mínimo aumenta pois consequentemente as minhas despesas aumentarão. Este ano pago 50% a mais de despesas em relação ao ano passado. E caso não sofressemos com a corrupção dos porcos capitalistas que governam nosso país, hoje nosso Sal. Mínimo poderia ser em torno dos R$2750,00.

    Este ainda é um país de 3° Mundo, falsamente denominado como país emergente, por conta do ultrapassado sistema, assim como a péssima distribuição da economia onde alguns Estados são tão miseráveis quando a Somália e outros tão prósperos e ricos quanto Nova York.
    Outro fator que contribui com a violência...a discriminação, o preconceito, e o racismo, que começam com simples provocações, e evoluem para o chamado Bullying que pode levar uma pessoa a cometer uma série de homicídios. Mesmo nos países mais ricos a Educação e Cidadania continua sendo um dos maiores problemas Sociais.

    E todas estas desigualdades favorecem para o crescimento da violência, drogas e prostituição.

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  3. A Globalização também contribuiu para aumentar ainda mais esta Desigualdade Social.

    Como países pobres como as nações Africanas e no Oriente Médio conseguem ser tão violentas se a população nem mesmo tem acesso aos video games.
    A mídia não pode culpar os videogames e não se culpar também pelo que ela mesma exibe todos os dias. A mídia brasileira tem MEDO de atacar o Governo, pois o Governo pode acabar com cada emissora de TV que ameaçe a sua integridade com a população.

    Sendo assim a mídia passa a buscar culpados, e como a onda de crimes no Brasil é alta graças a Lei ultrapassada que impede que menores de 18 anos sejam presos, isto porque nem maiores de 18 são presos mesmo após matar uma multidão...ela acaba culpando os videogames a taxando como fator que contribui para o aumento descontrolado da violência, drogas e sexo.

    A mídia também teve papel fortíssimo em relação ao que se trata de INFIDELIDADE, a TRAIÇÃO é algo comum em qualquer emissora de TV, tratam isto com naturalidade como se fosse parte da natureza do ser humano trair. Hoje é comum ver mulheres e homens traindo seus cônjuges e doenças como HIV se tornando cada vez mais comuns, como se não fosse uma doença letal e sim um trunfo.
    Esta influência negativa que a mídia exerce ao lado da Desigualdade Social, são os elementos que contribuem para o aumento da criminalidade, sexo e drogas em nossa sociedade.

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  4. É mas vale ressaltar que faz parte do ser humano buscar culpados para seus próprios atos.

    É comum um indivíduo cometer um crime e mentir que não fez buscando culpados.

    A violência, drogas e outros males do ser humano só se tornam presentes quando o lado psicológico de uma pessoa esta abalado ou quando há liberdade em excesso. Acredito mais que isso depende muito do grau de instrução de cada pessoa e a sua convivência.
    Por exemplo, certo dia você esta bem, porém algo acontece que abala seu lado psíquico e a partir disto pratica algum tipo de violência.

    Não é o videogame que afeta o psicológico de uma pessoa, mas é óbvio que se um adolescente jogar um game para adultos com alto nível de violência, sexo e drogas, se este indivíduo já conviver num ambiente assim, achará a coisa super normal. Quero dizer que video-games não afetam uma pessoa normal, mas pode afetar aqueles que ja estão psicológicamente abalados, por isto acho que a culpa é tanto da família quanto dos lojistas que não fazem o devido controle daquilo que seus filhos irão por as mãos.
    É assim que encaro a realidade, mas todos vocês estão corretíssimos em seus argumentos.

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